Estórias do arco do Merceeiro #1
Àquela hora, já toda a gente tinha saído — leia-se: desistido do projecto que era apenas uma presença da agência no concurso, sem pretensão de ganhar. Mas como todo o conceito era meu, o racional também e, pasme-se, até a estratégia criativa e respectiva justificação o chegaram a ser, era o meu bebé e, por isso, não (des)larguei até estar tudo feito. Eram, portanto, avançadas horas adentro pelo serão, estava eu a inserir copy num mupi da designer que já tinha saído, quando fui interrompida pelo merceeiro do Gabinete do Canto Com a Janela Grande, vulgo e abreviado, CEO.
— Então, menina, que está a fazer?
— Então, sr. Merceeiro, estou a trabalhar. Não se nota? — estava precisamente a inserir os textos das speech bubbles que compunham o mupi.
— Ah é?
Ignorei-o. Já estava nas minhas costas, a uma distância que era impossível que não visse cada ponto e vírgula que eu metesse.
— E está a colocar pontos finais em headlines?
— Não são headlines, sr. Merceeiro. São falas.
— Isso é o quê?
— É o mupi, sr. Merceeiro.
— Então são headlines. Se estão num mupi são headlines.
Voltei a ignorá-lo.
— A menina não sabe que em publicidade não se usam pontos finais?
— Permita-me discordar, sr. Merceeiro.
— Não foi a menina que estudou Jornalismo?
— Sim, sr. Merceeiro.
— Então não percebe nada de Publicidade. Se percebesse, não estaria aí a meter pontos finais em headlines.
— Sr. Merceeiro, vai-me desculpar, mas tanto em Publicidade como em Jornalismo, se escreve em Português. A língua é a mesma e as regras também.
— Pois, mas volto-lhe a dizer que não deve escrever pontos finais em headlines.
— Isso é discutível, sr. Merceeiro. E eu volto a dizer-lhe que não estou a escrever headlines. Já agora, apenas para referência, deixe-me apontar-lhe para o livro que o seu colega, Director de Contas e Publicitário de Carreira, teve a gentileza de oferecer a cada um dos colegas da equipa (e que estava em cima da mesa).
O homem nunca mais olhou para mim direito. Halas...
Ah, e este post já não pode dar aso a despedimento.
— Então, menina, que está a fazer?
— Então, sr. Merceeiro, estou a trabalhar. Não se nota? — estava precisamente a inserir os textos das speech bubbles que compunham o mupi.
— Ah é?
Ignorei-o. Já estava nas minhas costas, a uma distância que era impossível que não visse cada ponto e vírgula que eu metesse.
— E está a colocar pontos finais em headlines?
— Não são headlines, sr. Merceeiro. São falas.
— Isso é o quê?
— É o mupi, sr. Merceeiro.
— Então são headlines. Se estão num mupi são headlines.
Voltei a ignorá-lo.
— A menina não sabe que em publicidade não se usam pontos finais?
— Permita-me discordar, sr. Merceeiro.
— Não foi a menina que estudou Jornalismo?
— Sim, sr. Merceeiro.
— Então não percebe nada de Publicidade. Se percebesse, não estaria aí a meter pontos finais em headlines.
— Sr. Merceeiro, vai-me desculpar, mas tanto em Publicidade como em Jornalismo, se escreve em Português. A língua é a mesma e as regras também.
— Pois, mas volto-lhe a dizer que não deve escrever pontos finais em headlines.
— Isso é discutível, sr. Merceeiro. E eu volto a dizer-lhe que não estou a escrever headlines. Já agora, apenas para referência, deixe-me apontar-lhe para o livro que o seu colega, Director de Contas e Publicitário de Carreira, teve a gentileza de oferecer a cada um dos colegas da equipa (e que estava em cima da mesa).
O homem nunca mais olhou para mim direito. Halas...
Ah, e este post já não pode dar aso a despedimento.
1 Comments:
Desculpa o reparo - ainda por cima anónimo... - mas azo é com z, não com s...
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